Espaço de atividade literária pública e memória cronista

domingo, 11 de setembro de 2016

A minha avó


Vem agora esta ideia de dedicar uma lembrança escrita, esta lembrança, a propósito de um texto que anda em diversas páginas da internet e tem sido partilhado no facebook. Por acaso um interessante naco de prosa que, contrariamente à maior parte do que costuma circular no espaço global, desperta atenção e transporta sentimentos de ternura.


Como tal, ao ler aquela mensagem, lembrei-me como algumas dessas passagens me diziam muito, fazendo lembrar-me de minha avó. A minha avozinha que recordei nas notas do texto de epílogo do livro da história da nossa região, no Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras; e especialmente num dos contos do livro Sorrisos de Pensamento. A minha avó paterna, com quem convivi meus primeiros anos e faleceu ainda durante a minha adolescência, da qual tenho uma imagem fotográfica, além do sorriso que retenho. Mais um documento da certidão de seu nascimento, ela que nasceu dentro dos muros do terreiro da Casa da Fonte, junto à casa onde também nasceu o famoso Padre Luís Rodrigues, como ela recordava, em Rande.

Assim sendo, eis o texto – que não é meu, mas de autor desconhecido, que o divulgou anonimamente pela Internet:

«Os avós nunca morrem, apenas ficam invisíveis…
Os avós que participam na infância dos seus netos deixam vestígios da sua alma, legados que irão acompanhá-los durante a vida como sementes de amor eterno para esses dias em que eles se tornam invisíveis.
Os avós nunca morrem, tornam-se invisíveis e dormem para sempre nas profundezas do nosso coração. Ainda hoje sentimos a falta deles e daríamos qualquer coisa para voltar a ouvir as suas histórias, sentir as suas carícias e aqueles olhares cheios de ternura infinita.
Sabemos que é a lei da vida, enquanto os avós têm o privilégio de nos ver nascer e crescer, nós temos que testemunhar o envelhecimento deles e o adeus deles ao mundo. A perda deles é quase sempre a nossa primeira despedida, e normalmente durante a nossa infância.
Hoje em dia é muito comum ver os avôs e as avós envolvidos nas tarefas de criança com os seus netos. Eles são uma rede de apoio inestimável nas famílias atuais. Não obstante, o seu papel não é o mesmo que o de um pai ou de uma mãe, e isso é algo que as crianças percebem desde bem cedo.
O vínculo dos avós com os netos é criado a partir de uma cumplicidade muito mais íntima e profunda, por isso, a sua perda pode ser algo muito delicado na mente de uma criança ou adolescente. 
Muitas pessoas têm o privilégio de ter ao seu lado algum dos seus avós até ter chegado à idade adulta. Outros, pelo contrário, tiveram que enfrentar a morte deles ainda na primeira infância, naquela idade em que ainda não se entende a perda de uma forma verdadeiramente real, e onde os adultos, em certas situações, a explicam mal na tentativa de suavizar a morte ou fazer de conta que é algo que não faz sofrer.
A maioria dos psicopedagogos diz de forma bem clara: devemos dizer sempre a verdade a uma criança. É preciso adaptar a mensagem à sua idade, sobre isso não há dúvidas, mas um erro que muitos pais cometem é evitar, por exemplo, uma última despedida entre a criança e o avô enquanto este está no hospital ou quando fazem uso de metáforas como “o avô está numa estrela ou a avó está dormindo no céu“. É preciso explicar a morte às crianças de forma simples e sem metáforas para que elas não criem ideias erradas. Se dissermos a elas que o avô foi embora, o mais provável é a criança perguntar quando é que ele vai voltar. É também importante ter em conta que a morte não é um tabu e que as lágrimas dos adultos não têm que ficar ocultas perante o olhar das crianças. Todos sofremos com a perda de um ente querido e é necessário falar sobre isso e desabafar. As crianças vão fazer isso no seu tempo e no momento certo, por isso, temos que facilitar este processo. As crianças irão nos fazer muitas perguntas que precisam das melhores e mais pacientes respostas. A perda dos avós na infância ou na adolescência é sempre algo complexo, por isso é necessário atravessar essa luta em família sendo bastante intuitivos perante qualquer necessidade dos nossos filhos.



Os avós, embora já não estejam entre nós, continuam muito presentes nas nossas vidas, nesses cenários comuns que partilhamos com a nossa família e também nesse legado verbal que oferecemos às novas gerações e aos novos netos e bisnetos que não tiveram a oportunidade de conhecer o avô ou a avó.
Os avós seguraram as nossas mãos durante um tempo, enquanto isso nos ensinaram a andar, mas depois, o que seguraram para sempre foram os nossos corações, onde eles descansam eternamente nos oferecendo a sua luz, a sua memória. A presença deles ainda mora nessas fotografias amareladas que são guardadas nos porta-retratos e não na memória de um celular. O avô está naquela árvore que plantou com as suas próprias mãos, e a avó no vestido que nos costurou e que ainda hoje temos. Estão no cheiro daqueles doces que habitam a nossa memória emocional. A sua lembrança está também em cada um dos conselhos que nos deram, nas histórias que nos contaram, na forma como amarramos os sapatos e até na covinha do nosso queixo que herdamos deles.
Os avós não morrem porque ficam gravados nas nossas emoções de um modo mais delicado e profundo do que a simples genética. Eles nos ensinaram a ir um pouco mais devagar e ao ritmo deles, a saborear uma tarde no campo, a descobrir que os bons livros têm um cheiro especial e que existe uma linguagem que vai muito mais além das palavras.
É a linguagem de um abraço, de uma carícia, de um sorriso cúmplice e de um passeio no meio da tarde compartilhando silêncios enquanto vemos o pôr do sol. Tudo isso perdurará para sempre, e é aí onde acontece a verdadeira eternidade das pessoas. No legado afetivo de quem nos ama de verdade e que nos honra ao recordar-nos a cada dia.»

Ora, recordando a minha avozinha, que está sempre presente em mim, lembro o tempo em que desapareceu de meus olhos, no ano em que foi captada a foto que aqui fica. Estando eu de gravata preta, como era uso ao tempo, precisamente de luto pelo falecimento de minha avó. Tinha 14 anos de idade e olhar distante. O cabelo revolto, na ocasião, foi por causa do vento, mas o semblante era da aragem desse tempo, então.

Armando Pinto


((( Clicar sobre as imagens, para ampliar )))