Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Artigo no Semanário de Felgueiras – em tempo tradicional de férias ("Guerra em paz")


Guerra em paz

Com o tempo de verão na sua plenitude, como que a refletir atmosfera dos dias de muito sol, há ambiente sem nuvens de predisposição estival, à maneira da boa disposição tomar conta do ânimo envolvente. Estando-se em período de férias para muita gente, metendo fase de algum descanso ou lazer turístico, como convidam as temperaturas quentes. Sendo época que noutros tempos dava para se andar aos grilos, notados pela própria sinfonia refrescante, enquanto hoje há quem ande à procura de “pokémons”, numa moda mais virtual de jogo em voga para apreciadores.

Nessa ambiência de descontração, contando ser temporada de passeios e visitas, lembra o caso também haver quem possa passar por estes lados nossos, ao jeito como se visita monumentos e museus por outros sítios, se por cá também houver o que ver, para quem não se agarrar demasiado aos meios virtuais, entenda-se. Saltando à ideia quão interessante seria haver um museu público na cidade sede do concelho, para melhor oferta aos visitantes e que, além de conter o usual quanto a artefactos, servisse sobretudo de garante do património conjunto. Ultrapassando o que existe (sabendo-se da existência de locais particulares e especialmente do museu do Assento, este não só longe do centro urbano mas também sem um delineamento historiador do que respeita ao território, mais personalidades salientes e factos memorandos), ou seja, que diga respeito a tudo e todos.

Vem isto a propósito, ainda que não pareça, de se estar em período comemorativo da 1ª Grande Guerra Mundial, cujo início ocorreu precisamente no ano da chegada do antigo comboio a terras de Felgueiras, em 1914 recorde-se, e levou às trincheiras da Flandres até 1918 também mancebos felgueirenses incorporados no Corpo Expedicionário Português. Decorrendo então o centenário da I Guerra Mundial, período propício a pelo menos lembrar não só os mortos mas igualmente os intervenientes que sobreviveram, nessa participação mártir em que estiveram jovens conterrâneos daquele tempo. Pois esses (que deviam ser enumerados até em lista historiadora, num estudo dos muitos que deviam ficar em letra de forma), todos eles, seriam alguns dos nossos patrícios merecedores de homenagem, não tanto com medalhas a título póstumo, mas com algo físico que faça perdurar pela memória coletiva o seu sacrifício, em representação afinal da população que por cá ficou e deu seguimento à felgaridade através das gerações seguintes. Vindo a talhe reparar na falta de um museu municipal onde figurem essas e outras ocorrências, de modo a honrar os nossos antepassados.

Resulta então esta lembrança, e daí a pertinência, de um destes dias ter chegado ao conhecimento do autor destas linhas o facto da destruição dumas quantas fotografias coevas, que deixadas ao sol e à chuva, como se diz, por desleixo de descendentes, se desfizeram pelo efeito do tempo das fisionomias de rapazes que viveram nesta região, fardados com os uniformes de cotim e capacetes de soldados dos tempos de La Lys. Fotos essas, retratando pessoas desta zona que estiveram nesse conflito internacional desenrolado nos campos de batalha em solo europeu, testemunhavam em películas impressas tal período sofrido da história pátria. Entre exemplares merecedores de chegarem ao conhecimento dos vindouros. O que leva a imaginar que poderia haver forma de oficialmente prover uma recolha de documentação ainda existente, em diversos géneros de suporte, para criação dum fundo histórico, por exemplo, e extensivamente isso ficar à vista pública pelos tempos fora.

Não fazendo disto uma guerra, mas para descanso de consciência, fica a ideia para paz da memória.

ARMANDO PINTO

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