Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Artigo no SF, de título sintomático.


Mais um artigo escrito e publicado, dentro da colaboração jornalística ao jornal Semanário de Felgueiras. Cujo título sintetiza o seu conteúdo, através de  texto a procurar deixar expressa a ideia do valor atribuído ao tema.

Dessa crónica, escrita a seguir à época pascal e publicada no SF desta sexta-feira 17 da quinzena seguinte à Páscoa, colocamos a respetiva coluna, mais o correspondente texto original para mais acessível leitura, aqui.
  
Irmãs Vicentinas do Unhão 

Ainda lembra aos ouvidos o toque da campainha do Compasso Pascal, passada que foi a Páscoa, sem ir muito longe algumas lembranças relacionadas, no que toca ao tema que vem à ideia, desta vez. Sendo que esta região sempre terá umas quantas referências a puxar pela memória coletiva, quer no aspeto ambiental como nas dotações, vindo então ao caso a faceta do património humano.

Ocorreu ainda há pouco, também, a comemoração da outorga do Foral Manuelino aos antigos concelhos de Felgueiras e Unhão. Encerrando-se esse período com a celebração da concessão régia da carta foralenga à velha Honra do Unhão. Cujos festejos tiveram pontos altos nas realizações programadas com lugar no edifício conventual da Misericórdia local. Onde sobressai o labor da Comunidade Vicentina das Irmãs de Caridade da Ordem de S. Vicente de Paulo. Ora, é sobre essa realidade que desta feita apraz registar uma existência de apreço, tal é sentida a sua presença e por quanto representa na região a faina das conhecidas Irmãs em prol do bem comum. Cuja vida conventual, por outro lado, tem ainda outros contactos memoriais à vivência local, de certo modo até com interligação ao tempo pascal ainda de fresca memória, sabendo-se que Felgueiras, como terra do pão de ló, é vasto sítio de implantação da doçaria tradicional – para a qual eram precisos ovos com fartura e nos conventos eram usadas as claras para engomar os véus dos hábitos, restando as gemas para o doce pão leve e outras iguarias adocicadas.

Com efeito, antigamente as Irmãs da Comunidade Vicentina da Misericórdia do Unhão usavam umas espécies de toucas muito salientes e hirtas, de pano endurecido através de aplicação de caldas de claras de ovos e produtos similares caseiros. O autor ainda chegou a ver isso, recordando-nos de ver as Irmãzinhas (como lhes chamávamos popularmente) a circular pela região com esses hábitos distintos. Andavam pelas portas em missão e consequentemente a joeirar algo mais, assim vestidas, metendo respeito e certo temor por isso mesmo, pois usavam tal alto toucado, à espécie de "chapéu" chamado de corneta, quase se assemelhando a uma gaivota de asas abertas. Também sendo associadas à memória popular, desses tempos passados, pela assistência que prestavam com um género de medicina popular, pois eram especialistas  na confeção caseira dum remédio das bichas à maneira antiga, custoso de engolir por seu intenso travo, mas de bom efeito curativo.

Isso tudo num aspeto que assim justifica retenção de mais-valia, perante o caso de estar instalada no concelho a Comunidade das Irmãs Vicentinas, mais propriamente chamadas Filhas de Caridade da Ordem de S. Vicente de Paulo, no Unhão (além de também no monte de Santa Quitéria), onde as mesmas exercem funções de educação dirigindo externatos com infantário, pré-escolar e escolas de ensino básico, além de apoio sócio-caritativo à comunidade da região. Vindo aqui agora ao caso, no facto a realçar, o exemplo das Irmãs do Unhão, como normalmente se diz, pela ligação afetiva ao tema.

Estão as mesmas no seu convento sito no antigo Paço dos Condes, edifício que em 1868 foi comprado pela Misericórdia de Nª Sª do Rosário do Unhão, em aquisição ao Barão do Calvário (Felgueirense que ao regressar do Brasil se radicou em Penafiel), desde quando ali ficou instalada a sede definitiva daquela instituição, fundada anteriormente em 1630 (conforme aludimos no “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, em 1997). Até que as referidas Irmãs Vicentinas vieram, em 28 de Março de 1933, para o serviço do antigo hospital da Misericórdia de Nª Sª do Rosário, e desde então se fez notar, sobremaneira, a sua presença na própria terra e na região envolvente. Como que a abrir as asas do antigo véu e a pousar no ambiente de mensagem atual. Quais andorinhas a levarem uma Primavera a quem necessitar.

Armando Pinto