Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sábado, 2 de agosto de 2014

Bodas de Ouro Sacerdotais do Padre Marílio – Filho de Rande: “Sacerdote para sempre" há cinquenta anos


Uma Nação só vive porque pensa, como discorreu Eça de Queirós. Vincando pela escrita que uma identidade, qual Pátria, a terra mátria ou torrão natal e afetivo, faz parte do sentimento, como parte integrante do que define a humanidade, que pensa e por isso existe. Quer dizer, quem pensa, procurando ver e meditar na razão existencial, valoriza o que torna o sentido afetivo especial, sabendo valorizar o que é seu, da comunidade, de modo a saber e sentir o que é próprio dessa analogia.

Num misto de familiaridade conterrânea, do género, ocorreu em 1964 um caso assim, que hoje apraz lembrar. Tal o que se passou, ao início de Agosto desse ano, com a ordenação sacerdotal do Padre Marílio, ao tempo amigo morador da Longra, junto aos moinhos da Torre, beirando o rio Sousa, na parte baixa da freguesia de Rande. Indo até ao Porto uma excursão, expressamente organizada pelo pároco Padre João, para se assistir à cerimónia da ordenação do Padre Marílio de Rande.


Temos ainda bem presente esse dia, pois, catraio ainda, com dez anos, o autor também foi nesse passeio de camioneta até ao Porto. A que, inclusive, se reporta a foto junta, de um momento de paragem pelo caminho, testemunhando algumas caras coevas de pessoas desse tempo… E cuja ocorrência, aliás, também ficou registada num dos contos do livro “Sorrisos de Pensamento” (publicado em 2001).

Desses tempos de inícios da década de sessenta, do século XX, é um aspeto das casas do adro da igreja de Rande, como mostra uma imagem dessas eras.


Ora, com muitas lembranças a bailar no mais amplo livro mental de nossas recordações, relembramos essa ocasião, tal como, volvida uma semana, a missa nova do Padre Marílio celebrada em Rande, na igreja matriz da paróquia de S. Tiago de Rande. Vindo de imediato ao semblante recordatório aquela semana antecedente, porque então se viveu na Longra um ambiente terno e alegre com o grupo de seminaristas que vieram para abrilhantar o cerimonial litúrgico, e, de permeio, encheram a Longra com sua alegria e encanto, em seu mavioso canto, qual bando de passarinhos chilreando, por entre esfusiantes brincadeiras e momentos de convívio com a juventude longrina. Enquanto, esses jovens que andavam a estudar para padres, também aprendiam cantos do conhecimento dos rapazes da Liga Eucarística de Rande, como a melodiosa cantiga do “Rouxinol adormeceu” (cantado repetidamente pelo César Ferreira, para melhor ficar nos ouvidos), e mesmo alguns cânticos que, com surpresa de um lado e de outro, se vinha a saber então serem da autoria do Padre Luís Rodrigues, da Lapa (Porto), que também nascera em Rande e a mocidade do seminário portucalense apreciava…

O Padre Marílio enquanto seminarista sempre que vinha de férias à Longra convivia muito com a rapaziada amiga e conhecida da terra (andando sempre acompanhado pelos filhos do sr. Machado, os irmãos Pinto, mais os César, Basílio, João Isaías, etc.), além de ajudar ao saudoso Padre João Ferreira da Silva nas missas, procissões, outros atos religiosos e na catequese ainda. Sendo desses tempos a imagem em que se vê o seminarista jovem ao lado do pároco, na organização da representação de Rande e Sernande para a peregrinação concelhia até ao monte de Santa Quitéria, em Felgueiras.


Ele, por esses tempos, gostava muito de patinar e recordamo-nos de o ver a jogar hóquei em patins na ampla esplanada de cimento da Casa da Padaria, a servir de rinque, à falta de melhor, junto com seus amigos Vítor Verdial, Fortunato Machado, Hernâni Carvalho (seu colega e depois padre, também) e outros; enquanto depois alguns pequenos, como o autor, iam todos contentes, levar-lhe a casa os patins e os sticks… e recebiam “santinhos”, como alguns dos que ainda guardamos.

Passaram muitos anos e muita água correu por baixo da ponte da Longra. E foi já há cinquenta anos que, com alguma admiração, naquele longínquo Agosto, beijamos as mãos perfumadas do senhor Padre Marílio, num misto tocante e conservante, por termos ali diante de nós aquele amigo que nos habituamos a ver a passar a nossa casa (normalmente ao lado do Adélio Machado, do Deodato Martins, e alguns outros), indo e vindo para sua casa, sempre rodeado de amigos e saudando conhecidos.


O Padre Marílio era filho da Virinha da Ponte, senhora muito risonha e simpática, e do muito respeitado senhor António moleiro, um daqueles homens de antigamente, cuja presença marcava consideração e apreço geral. Não sendo de admirar que tivesse sido incluído no lote de estudantes a quem, naquele tempo, a família Sarmento Pimentel, da Casa da Torre, pagava o curso canónico. E merecesse estima das boas famílias da terra, como era acarinhado pela D. Emília, esposa do sr. Américo Martins da Metalúrgica da Longra, e no mais fosse muito querido de toda a população.

Houve festa na terra, por isso, no dia da sua Missa Nova. Tendo o Padre Marílio ido em procissão desde sua casa, na Longra, até à igreja paroquial, em passeio a pé, pelo Montebelo, ou seja à volta, de maneira a passar pela Casa da Torre, com acompanhamento de muita gente sua amiga e conhecida. 

Da chegada à igreja e aproximação ao altar é o instantâneo fotográfico (colocado a seguir) que temos em nosso álbum pessoal e para aqui ilustramos tal memória de tão solene dia. 


Ora, o Padre Marílio é assim um Ilustre Filho de Rande. Que nestes dias, 2 e 9 de Agosto, está de parabéns, com honra e orgulho de quem sente o que respeita especialmente a Rande, a nossa terra. Tal qual se relembra com o verso da pagela alusiva, da ocasião - o "santinho" de recordação das respetivas Ordenação e Missa Nova.


Assim sendo, homenageamos deste modo o nosso conterrâneo Padre Marílio da Costa Faria, cujo percurso curricular se justifica fixar (deitando mãos, a partir daqui, à biografia oficial indicada por ocasião do reconhecimento que lhe foi prestado oficialmente pela Câmara de Penafiel, de permeio com alguns acrescentos):

Nasceu a 22 de Janeiro de 1940 na freguesia de Rande, concelho de Felgueiras. Aos seis anos de idade, iniciou o seu percurso religioso na catequese paroquial de S. Tiago de Rande, sendo admitido, aos onze, no seminário de Ermesinde, passando, também, pelos seminários diocesanos de Trancoso e Vilar.
Foi no seminário da Sé que concluiu o curso de Teologia, em 1964. Nesse mesmo ano, a 2 de Agosto, foi ordenado sacerdote, na Sé Catedral do Porto. Iniciou a sua vida pastoral como sacerdote na paróquia de Paranhos, no Porto, como coadjutor, de 1964 a 1966. Em Março de 1966 foi colocado como pároco na freguesia de Canelas, concelho de Penafiel. Posteriormente foi também Pároco das freguesias de Capela, Figueira, Sebolido, Rio Mau e Pinheiro, todas em Penafiel.
Foi delegado ao conselho presbiteral da Diocese do Porto (órgão consultivo do Bispo) em representação da Vigararia de Penafiel durante 12 anos.
 A sua vida religiosa caracterizou-se sempre pelo seu empenho, vivacidade, alegria, amizade, compreensão companheirismo e proximidade, principalmente para com os mais jovens. As suas características pessoais e sociais destacaram-no na sua vida religiosa, sendo um dos sacerdotes mais queridos não só da sua e nossa terra, bem como, especialmente, no concelho de Penafiel, onde se enraizou.
Em 1970, cumpriu o serviço militar obrigatório, frequentando, durante um ano, a academia militar em Lisboa, como preparação para os dois anos que se seguiriam, como capelão militar na guerra colonial, em Moçambique. Regressou depois, por fim, às suas paróquias no Verão de 1973.
Paralelamente ao seu percurso religioso, sempre foi um cidadão muito ativo. Aos vinte e seis anos, foi jogador federado de hóquei em patins, pela Associação Desportiva de Paredes, tornando-se no primeiro padre federado. Foi vice-presidente e chefe do departamento de futebol do Futebol Cube de Penafiel, e refundador do Futebol Clube de Canelas, tendo liderado o processo de construção de um campo para a prática desportiva. Desenvolveu, também, a sua vida profissional como professor de Educação Moral, Religiosa e Católica, durante 25 anos, e foi Presidente do conselho executivo da Escola Secundária de Paredes, entre os anos de 1993 a 1995. Foi, ainda, Provedor da Escola Secundária de Paredes em 2001 e 2002. Em 1996, foi Vereador com os pelouros de Juventude, Desporto e Cultura da Câmara Municipal de Penafiel. Socialmente, procurou sempre responder aos desafios que lhe eram propostos, tendo fundado, em 1974, o Grupo de Jovens da Capela (CECA). Mais tarde, em 1993, foi fundador do Rotary Club de Paredes e Secretário da direção da Apadimp. Desde 2006 até à presente data, desempenha o cargo de Vice-presidente da Assembleia Geral da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Entre-os-Rios.

Atualmente, com 74 anos de idade continua com a sua missão de sacerdote, sendo responsável pelas freguesias de Canelas, Capela, Sebolido e Rio Mau.

Numa das esporádicas suas vindas a Rande, o Padre Marílio, de uma das vezes, teve oportunidade de concelebrar no altar onde celebrou sua primeira missa, no caso aquando duma visita pastoral do então bispo-auxilar do Porto e felgueirense D. João Miranda, ao tempo da administração religiosa do Padre Jorge - como se vê na foto seguinte, estando dos lados do altar dois padres naturais da paróquia de Rande, de um lado o Padre Marílio Faria e do outro o Padre Joaquim Sampaio.


Recentemente, o Padre Marílio foi agraciado pela Câmara Municipal de Penafiel com a Medalha de Ouro do próprio concelho, aquando do 243º aniversário de elevação de Penafiel ao estatuto de cidade. Ato ocorrido, corria Março de 2013, em sessão solene evocativa do “3 de Março” penafidelense, realizado no Museu Municipal local. Na ocasião, entre as atribuídas medalhas honoríficas a instituições do concelho, foram reconhecidos méritos também a personalidades, como o P.e Marílio, com a medalha de ouro da cidade de Penafiel, referenciando: «Marílio da Costa Faria, padre, responsável pelas freguesias de Canelas, Capela, Sebolido e Rio Mau».


Agora, na passagem do cinquentenário em apreço, o atual bispo do Porto, o simpático D. António Francisco dos Santos, celebrou condignamente as respetivas bodas de ouro sacerdotais onde, há cinquenta anos, o Padre Marílio e seus companheiros de curso completaram o percurso presbiterial, na Sé do Porto – como, ao cimo, mais aqui  e no fim, se regista em imagens correspondentes.

No caso, houve missa solene na Sé Portucalense, para assinalar as bodas de ouro dos sacerdotes que festejavam essa conta jubilar de há 50 anos terem sido ordenados por D. Florentino Andrade e Silva – como se pode reter pela descrição da Ecclesia, agência noticiosa cristã:

« D. António Francisco dos Santos, bispo do Porto, afirmou este sábado na celebração de Bodas de Ouro de oito sacerdotes que o ministério que desenvolveram ficou marcado pelo Concílio Vaticano II, por “pontes de diálogo” e “novos caminhos na missão da Igreja”. “Estabelecestes pontes de diálogo com o mundo da cultura e abristes caminhos novos na missão da Igreja”, disse D. António Francisco aos sacerdotes ordenados no dia 2 de agosto de 1964, “contemporâneos” da “primavera de esperança” que Vaticano II significou para a Igreja. “O Senhor escreveu convosco uma bela página da Igreja do Porto, em tempos exigentes e em lugares de periferia, onde é necessário levar a alegria do Evangelho, como nos convida o Papa Francisco”, acrescentou.

Neste sábado, no dia em que se assinalavam 50 anos de ordenação sacerdotal de Amadeu Ferreira da Silva, Domingos de Lima Milheiro Leite, Joaquim Maia Moreira de Sousa, José de Almeida Campos, José Pereira (C.M.), Manuel Dias da Silva, Marílio da Costa Faria e Rui Osório de Castro Alves, o bispo do Porto presidiu a uma eucaristia na Catedral. “Quero, com a minha presença, dizer-vos que a alegria que aqui nos traz é alegria de toda a Igreja do Porto”, referiu D. António Francisco dos Santos.»


Armando Pinto

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