Espaço de atividade literária pública e memória cronista

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Ramos e Cruzes de Alvorada à Primavera


Em início de Primavera, quando o meio envolvente é de exaltação da vida, a alvorada da natureza combina no rebentar das folhas à alegria de próximo tempo pascal.

Chegando os “Ramos” é vez de recordarmos, nesta relação de costumes antepassados da nossa terra, algo relacionado com os costumes do tempo decorrente do Domingo de Ramos.

Assim, a uma semana da Páscoa, pelos “Ramos” as namoradas punham um ramo de oliveira no bolso de peito do casaco do conversado, para lhes lembrar a tradição das amêndoas que os namorados ofereciam às raparigas no domingo de Aleluia. De igual forma procediam os afilhados, para com os padrinhos e madrinhas a lembrar o folar da Páscoa – costume que originou, mais tarde, a oferta atual de um ramo de flores, em brinde antecipado às madrinhas, por parte dos afilhados.


Então a procissão e missa desse Domingo era coisa falada, pelo ambiente diferente proporcionado pelos ramos decorados com flores e outros enfeites, acontecendo mesmo que pelo tamanho desproporcionado de alguns dos mesmos, nesse dia quase que nem se podia ouvir missa, mais pela distracção da passagem dos rebentos pelas caras ou nucas, a juntar ao latim do cerimonial...

Contudo, esse espírito depressa era alterado pois, mal passava o Domingo de Ramos, vinha a Semana Santa, tempo da via-sacra e demais celebrações da Paixão, incluindo Ofício de trevas, chegando a época do Tríduo Pascal (que se segue desde a Quinta-feira Santa até às vésperas da Aleluia, da vigília Pascal).

Ora esse período era vivido muito nos Calvários, locais existentes nalgumas freguesias onde estavam espaçadamente implantadas cruzes de pedra, culminando num conjunto de três, geralmente sobre pequeno outeiro. Do que sabemos, por transmissão de pessoas idosas, existiu assim um na freguesia de Rande, em monte como tal chamado de calvário; e há ainda o exemplo de Caramos, em que esse Caminho da Cruz está preservado, tal como na igreja românica do Unhão resistem, ladeando a porta principal, duas cruzes desse género. Como recordações de fé e toponímia, aonde acorriam fieis a recordar as transes da Via Crucis, a via dolorosa até à adoração da cruz. Ali se representavam também, em determinados casos, os já lembrados Autos da Paixão perante multidão piedosamente condoída.

Hoje aspetos da vivência dos confins da memória, alusiva ao alvor da Primavera que representa para os Homens de Boa Vontade a Paixão vitoriosa na Ressurreição, renovadora da humanidade.

© Armando Pinto

(Texto parcialmente publicado, há alguns anos, no Semanário de Felgueiras; e na totalidade, com mais qualquer coisa... destinado a fim editorial futuro.  A P )